domingo, 3 de março de 2013

Coquetel de Fibras

"Ele voltou... o boêmio voltou novameeeeeente!" Quando eu era menina e ouvia o Nelson Gonçalves cantando isso eu sempre achava o verso assim, meio.... redundante. Voltou novamente? Hoje vejo que isso é possível, sim: um mês atrás eu escrevi uma postagem voltando de férias, mas aquilo foi delírio meu: cá estou eu voltando de férias... novamente. A gente tenta, mas a verdade é que enquanto as crianças não voltam às aulas e o carnaval não passa, não dá para retomar o ritmo de vida normal. Tentei, falhei.

Em minha defesa posso afirmar que tirei férias de escrever no blog, mas não de mexer com as fibras. Como evidência vou mostrar o fio BFL pronto - aquele verde-samambaia que estava fiando na última postagem:

1. Fio pronto no niddy-noddy - pouco mais de 300 metros;
2-3. Retirada do niddy-noddy, a meada ainda apresenta excesso de torção;
4. Após a lavagem, o fio relaxa e a torção normaliza;
5. Nas ilustrações românticas de antigamente havia sempre uma boa alma segurando a 
meada enquanto a tricoteira preparava a bola... eu uso as costas da cadeira, mesmo;
6. Bola de fio pronta para usar!

Como eu havia previsto, o fio ficou muito fofinho e se comportou bem nessa primeira amostra:


O complicado de se fabricar fio artesanalmente é que ele acaba virando nosso bebezinho, e é bem difícil decidir em que peça utilizá-lo! Enquanto aguardo inspiração, vou mostrar outros fios que andei usando. Trata-se de fios industrializados, com diferentes combinações de fibras. Cada combinação tem um resultado - às vezes feliz, outras vezes nem tanto. Nos últimos meses tricotei as seguintes peças testando esses fios:


Fio: Ice Yarns* Viscose Merino 
Combinação de 50% merino (lã natural) e 50% viscose (sintética)
Aprovada porque: A viscose tornou a lã mais fresquinha e apropriada para meia-estação, e deu um drapeado bonito e gostoso à peça. O fio distorce um pouquinho, mas nada que desanime, e o resultado compensa.


Fio: Patons** Serenity 
Combinação de 50% algodão e 50% viscose de bambu
Reprovada porque: Tanto o algodão quanto a viscose de bambu são mais pesados e não têm elasticidade; a peça ficou bonita e gostosa, fresquinha... mas cada vez que olho para ela parece que está maior! No corpo, ela não pára no lugar, quase escorrega ombro abaixo...Além disso, a torção fica desfazendo (não tem a lã para segurar a torção) e a gente sem querer enfia a agulha no meio das fibras - muito chato de trabalhar. 



Fio: Brown Sheep*** Cotton fine 
Combinação de 80% algodão e 20% lã 
A-pro-va-dís-si-ma porque: Apesar do predomínio do algodão, que tem zero elasticidade, a pequena quantidade de lã presente deu "outra mão" ao fio: a peça ficou leve e fresca e não cresce involuntariamente como se tivesse vida própria.  A definição do ponto é excelente, e o fio é muito agradável de trabalhar.



Fio: Ice Yarns Pure Alpaca
100% alpaca
Essa fibra é maravilhosa... mas empregada pura, não é apropriada para qualquer trabalho, não: o fio fica um pouco pesado e a elasticidade também fica comprometida. A peça acima cresceu muito na hora de blocar. E algo me diz que vai crescer mais com o uso...sendo um xale, tudo bem; mas e se se fosse um suéter? Nesse caso, eu certamente ia preferir uma combinação de alpaca com lã. Já escrevi outras postagens sobre a alpaca - para localizar utilize a ferramenta de busca do blog.


Fio: Ice Yarns Woolsilk Tweed
Combinação de 40% rayon (sintético), 30% seda e 30% lã
O fio me pareceu um pouco rústico a princípio... estava guardado aqui em casa há um tempão, mas não tinha simpatizado com ele nas primeiras tentativas de tricotar um amostra. O fato é que ele é rústico, sim, e não se presta a trabalhos muito elaborados, com tranças , pontos em relevo, etc. No final, revelou-se perfeito para essa peça super básica, toda em ponto meia: sua textura mesclada foi valorizada e, para minha surpresa, ele foi ficando mais gostoso à medida em que eu tricotava! 

*Vocês devem ter reparado que vários dos fios acima são da Ice Yarns; não estou fazendo propaganda; é que esses fios, apesar de importados, são bem acessíveis. Andei sondando e a informação que tive é que lá na Turquia, onde fica a empresa, o uso pricipal dos fios é a fabricação de tapetes. O mercado de tricô e crochê não é lá essas coisas, e eles então vendem para o exterior. Tenho comprado muito deles - o atendimento é ótimo, os pacotes chegam rápido e a maioria dos fios é bem legal. Já tive algumas decepções e a paleta de cores não é muito variada; mas, ainda assim, compensam.

**O Patons é Australiano e alguns de seus fios estão à venda no Bazar Horizonte. O fabricante é bom - a combinação de fibras que citei aqui é que não funcionou - pelo menos não para mim.

***O Brown Sheep é super renomado e caro para nosso bolso; o fio que mencionei acima foi comprado em uma promoção do eBay - cinco novelos por um precinho bacana; segundo o vendedor, a produto era de segunda linha mas "está em condições de uso". Não vi nada de segunda linha - o fio estava perfeito. O controle de qualidade lá fora é que é muito rigoroso.

Enquanto isso, aqui no Brasil, é tempo de novos lançamentos para o inverno. E, mais uma vez, as primeiras "novidades" não são nada promissoras:


Como nos anos anteriores: pompons, frufrus, bolotas e alguns basiquinhos repetitivos. Tudo em poliéster, poliamida, acrílico... ou seja: totalmente sintéticos. Na boa: eu penso que...


Então, em homenagem a nossos fabricantes, fiz essa brincadeirinha com aquelas carinhas que andam fazendo sucesso na internet: 


Pensando bem, brincadeirinha uma ova: é sério, viu, senhores fabricantes? Acordem!