Em postagens bem recentes eu mostrei esses dois lançamentos nacionais 100% lã de carneiro. Eu os descobri pela internet, e a curiosidade de experimentar foi grande. Encomendei, e eles chegaram ontem.
O novelo em tons de roxo à esquerda é o Confor da Pura Fibra, que eu havia mostrado aqui. A cor é mais bonita pessoalmente do que na foto, e o toque da lã é bem agradável. O fio também se comportou bem nesta amostrinha:
Por "bom comportamento" eu quero dizer boa elasticidade e boa definição dos pontos. O que não passou muito em meu teste foi o colorido: esse é um fio tipo self-striping - ou "que cria listras sozinho". Não sou muito de fios matizados, ou pelo menos prefiro que o matizado seja mais sutil - com uma variação de cor mais freqüente, com menos contraste e que não chegue a formar listras. Mas gostos variam, né? O mundo seria muito chato se todo mundo tivesse gosto igual. Na verdade, não é que eu não goste dos coloridões: é que normalmente eles brigam com o tricô - se for utilizado um ponto muito elaborado fica uma confusão visual só. Como ando em uma fase de experimentar muitas técnicas e pontos novos, prefiro um fio de colorido mais discreto.
Deixando a cor de lado, a qualidade da lã superou minha expectativa. Eu não estava lá muito otimista porque o produto é descrito apenas como 100% lã, sem especificar que tipo de lã. E existem centenas. A pesquisadora Clara Parkes faz uma colocação interessante em seu livro The Knitter's Book of Wool: ela explica que cada tipo de lã é mais indicada para um propósito ou outro, e não existe "lã boa" ou "lã ruim"; existe lã imprópria para determinado fim. No entanto, os fabricantes no mundo todo sempre descreveram seus produtos simplesmente como "lã". A autora vai adiante comparando essa situação com a fabricação do vinho: há diversos tipos de uvas, e os bons vinhos são indentificados como Cabernet, Chardonay, Merlot, etc. Como fabricar um produto, engarrafar e escrever no rótulo "100% uva"? Felizmente, segundo ela, isso está mudando, e os bons fabricantes já identificam seus fios de acordo com a raça do carneiro: Merino, Shetland, Targhee, etc. Por isso fiquei agradavelmente surpresa com o fio "100% lã" da Pura Fibra: seja lá qual for a raça, o toque é gostoso e eu tranqüilamente faria um cachecol para enrolar no pescoço.
A Pura Fibra também marcou pontos no atendimento ao cliente: enviei um e-mail para eles elogiando a iniciativa e, muito rapidinho, recebi resposta super gentil, agradecendo o contato e o incentivo, e dizendo que a opinião do consumidor é importante. Achei bacana porque já enviei e-mails com comentários e sugestões a outros fabricantes, e nunca recebi resposta.
O único porém é: a embalagem informa que o fio é fabricado na Turquia. No eBay existem milhares de ofertas de tipos variados de fios de um fabricante na Turquia. Eu mesma já comprei desses fios em algumas ocasições, e são bons. Mas são muito, muito baratos: tipo um lote com 8 novelos, totalizando 1200 metros, por 12 dólares. Por que o preço tão baixo? Dá para desconfiar, né? O preço do novelo do Confor está racional, então espero que sua procedência seja justa.
O outro lançamento, que eu havia comentado nessa postagem, é o Da Fazenda, fabricado pela Fazenda Caixa D'Água. Esse meadão que, depois de desenroscado, ficou enooooorme:
100% merino de carneirinhos brasileiríssimos. Fiação artesanal. Tingimento natural. Segundo o fabricante, essa cor que comprei (116) é tingida com carqueja.
Este fio é um single - ou seja, a torção só foi aplicada uma vez: não houve segunda torção de vários fios juntos. O processo de fiação me parece ser o woolen, que deixa a lã mais fofinha e aerada. (Já expliquei sobre fios single ou plyed aqui, e falei sobre o processo woolen de fiação aqui). Eu a-m-o os singles. O problema deles é que ainda não sei fiá-los com destreza. É preciso ter consistência, uniformidade quase total na espessura, e eu ainda cometo deslizes. O processo de plying retorce dois ou mais singles juntos, minimizando as discrepâncias, morou? Mas um single assim lindão, fiado por quem tem experiência, é show!
A qualidade da lã está acima de qualquer suspeita - é só pôr a mão; comparável a fios semelhantes que comprei lá de fora - como o Malabrigo e o Madelinetosh. Só acho que eles erraram um pouco na classificação da espessura: a descrição é Worsted, mas achei que ele está mais de Aran para Bulky*. Eu tricoto folgado e normalmente uso agulhas de 4 mm para fios worsted. Fiz uma amostra com agulhas de 6 mm, na boa:
A cor é mais verdinha do que parece na foto, e tem umas variações sutis, típicas do tingimento artesanal, que eu adoro. Difícil agora é decidir o que fazer com essa maravilha!
*Explicando as classificações: segundo a tabelinha do Craft Yarn Council (um órgão que regulamenta e classifica os fios para artesanato nos EUA) avalia-se a espessura de um fio em Wraps Per Inch (WPI) - ou "voltas por polegada": é só enrolar o fio em uma régua e ver quantas voltas são necessárias para preencher uma polegada (= 2,54 cm). As classificações por espessura vão de 1 a 6, sendo 4 a espessura média - ou worsted: 12 WPI; o fio Da Fazenda mediu 10 voltas por polegada, caindo no limite entre as categorias Aran e Bulky.
Uma ressalva sobre este fio: ele já vem tratado para não encolher nas lavagens; isso normalmente indica que o fio não se presta a trabalhos feltrados. Mas eu ainda não falei sobre feltragem - breve vou explicar melhor!
Até a próxima!